Nessa época do ano não tem jeito: todo mundo pára uns dias para descansar as ideias, fazer um balanço dos doze meses vividos e sonhar com o porvir. Vale para indivíduos e também para instituições. Prestes a completar 67 anos de luta pelos direitos dos escritores do país, a União Brasileira de Escritores (UBE) se alegra de ter realizado, ao longo do ano, novas edições de quatro de suas premiações literárias anuais – com destaque para o Troféu Juca Pato, que vai para personalidades -, e lançado um prêmio para valorizar o cronista. Além disso, publicou a “Antologia Sino-brasileira de Contos”.
A jornalista e escritora Míriam Leitão foi a vencedora do Prêmio “Intelectual do Ano” – Troféu Juca Pato de 2024, organizado pela UBE. Míriam recebeu o troféu das mãos de Conceição Evaristo (foto), homenageada do ano passado, durante o Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira), e foi eleita após ter publicado o relato jornalístico “Amazônia na encruzilhada: O poder da destruição e o tempo das possibilidades” (Intrínseca, 2023).
Criado em 1962, por iniciativa do escritor Marcos Rey, o Troféu Juca Pato é um dos mais importantes reconhecimentos da literatura brasileira. Já foram laureados escritores como Lygia Fagundes Telles (1918-2022) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), o crítico literário Antonio Candido (1918-2017) e os ex-presidentes da República Juscelino Kubitschek (1902-1976) e Fernando Henrique Cardoso.
Coletânea em português e mandarim
A UBE lançou, em parceria com a Associação de Escritores de Xangai, o e-book bilíngue e gratuito “Antologia Sino-brasileira de Contos” (e-galáxia), reunindo 16 contos – oito escritos por brasileiros, entre clássicos e contemporâneos, e oito de autores contemporâneos de Xangai – em 701 páginas digitais. No elenco brasileiro, Mário Araújo, Cinthia Kriemler, Carla Muhlhaus e Paulinny Tort se juntam aos cânones Machado de Assis (1839-1908), Lima Barreto (1881-1922), Mário de Andrade (1893-1945) e Hilda Hilst (1930-2004).
“Ao nos depararmos com a oportunidade de unir forças com a Associação de Escritores de Xangai, não paramos muito tempo pensando, logo ficou claro ser iniciativa importante. Unir textos de Brasil e China em edição bilíngue faria com que os dois universos leitores pudessem entrar em contato com culturas diferentes, e raramente vistas tão próximas. Fomos em frente e o resultado está aí. Não foi um caminho fácil, mas nos orgulhamos demais do que fomos capazes de construir”, comemora o escritor Ricardo Ramos Filho, presidente da UBE.
A hora e a vez de poetas, infantojuvenis e contistas
O Prêmio Claudio Willer contemplou a produção dos poetas de todo o país pelo segundo ano consecutivo. Poeta, ensaísta, crítico e tradutor paulistano, Willer (1940-2023) foi um grande propagador dos versos da geração beatnik no país.
“Claudio Willer foi muito presente na UBE, participando de várias gestões, tanto como vice-presidente, como presidente. Sua figura afável, seu jeito educado e cordato, fizeram que se tornasse uma pessoa sempre muito querida, indo além do seu talento reconhecido como poeta”, diz Ramos.
Este ano, os autores de livros infantis e juvenis concorreram ao III Prêmio Nelly Novaes Coelho de Literatura Infantil e Juvenil. Foi uma realização da UBE em conjunto com o Grupo de Pesquisa e Produções Literárias e Culturais para Crianças e Jovens (GPPLCCJ) da USP e com a Editora Cintra.
“Nelly Novaes Coelho (1922-2017) foi e ainda é, já que seus alunos convivem diariamente com ela por meio de seus livros, a maior autoridade em Literatura para crianças e jovens do país. As suas obras são referências cotidianas para quem deseja conhecer melhor o gênero”, afirma o presidente da UBE.
Já os contistas disputaram a quarta edição do Prêmio Anna Maria Martins. Os nomes dos quinze vencedores serão divulgados em 30 de dezembro e as suas histórias serão reunidas em um livro, em 2025. A homenageada estreou como contista aos 48 anos: “Trilogia do emparedado”, que logo conquistou o Prêmio Jabuti da categoria, em 1973. Ela viveu de 1924 a 2020.
Para Jayme Serva, diretor da UBE e um dos organizadores do concurso, “o texto curto, em que a curva dramática se traça em poucas páginas, exige um talento nem sempre reconhecido. É atrás desses talentos que temos vindo, já há quatro anos, com o Prêmio Anna Maria Martins, que homenageia um dos grandes nomes dessa arte tão delicada e complexa”
Mais um prêmio, desta vez para incentivar a produção de crônicas
Com o objetivo de incentivar e valorizar o cronista brasileiro, a União Brasileira de Escritores lançou este ano o I Prêmio Ruth Guimarães de Crônicas. Um total de 20 textos foram selecionados por um júri especializado em literatura, e uma crônica extra foi inserida como menção especial, para o livro “Crônicas Selecionadas” (e-galáxia).
Escritora, professora e tradutora, Ruth Guimarães (1920-2014) fez da crônica um dos gêneros marcantes da sua obra, que inclui romances e poesias. E nela se inspira a vencedora do prêmio: Cristina Siqueira, autora do conto “Conversando com Monalisa”, no qual evoca grandes artistas atemporais, como Frida Kahlo, Pink Floyd, Janis Joplin e Vermeer.
“Sinto-me honrada por ter recebido este precioso Prêmio Ruth Guimarães pela grandeza da homenageada, que tanto admiro, e pela confluência de escritores que se agregam pela feliz proposta da UBE de valorizar a Língua Portuguesa. É necessário ampliar a roda de escritores, oferecer terreno para germinar sementes e fazer florescer palavras”, comemora a ganhadora, que escreve há 30 anos.
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MONICA CRISTINA RAMALHO CUNHA
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