Nos últimos meses, uma prática inusitada e preocupante tem ganhado destaque nas redes sociais: a venda do cadastro da íris em troca de criptomoedas. Prometendo pagamentos digitais, o procedimento envolve o escaneamento da íris por câmeras de alta definição e a conversão dessa informação em um código criptografado.
A empresa Tools for Humanity está oferecendo pagamentos em criptomoedas para cidadãos brasileiros que autorizarem o cadastro de sua íris. O processo consiste em um juramento digital via aplicativo e um agendamento presencial, onde os participantes passam por uma breve explicação antes de terem seus olhos escaneados por um totem. Após o procedimento, o pagamento inicial – em criptomoedas – é depositado na conta do participante, com outras parcelas previstas ao longo dos meses.
O projeto chegou ao Brasil em novembro de 2024 e rapidamente atraiu a atenção. Em menos de um mês, 115 mil brasileiros haviam concluído o processo de verificação. Segundo a Tools for Humanity, mais de 540 mil brasileiros já baixaram o aplicativo, e 416 mil estariam aptos a concluir a verificação, que ocorre em locais físicos, geralmente shoppings, e os usuários recebem tokens WLD como recompensa. O valor aproximado recebido por usuário no Brasil tem girado em torno de R$ 740.
Embora a proposta soe atrativa, Andrea Melo, CEO da A Melo IT Governance, afirma que uma empresa especializada em cibersegurança, governança de TI e gestão de riscos, alerta para as possíveis implicações dessa prática. A íris é uma característica única e inalterável, que, assim como a digital e o reconhecimento facial, pode ser usada como chave de acesso para aplicativos e sistemas digitais. A promessa de exclusão das imagens após o cadastro, feita pela empresa responsável, não elimina os potenciais riscos de vazamento ou mau uso desses dados sensíveis.
Andrea explica que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) classifica dados biométricos como dados pessoais sensíveis, devido ao potencial de causar discriminação ou prejuízo aos titulares se mal utilizados. “O tratamento dessas informações é permitido somente mediante finalidades específicas, legítimas e informadas ao titular, com consentimento explícito ou em outras bases legais previstas, como cumprimento de obrigação legal, execução de políticas públicas ou proteção da vida. Além disso, a LGPD exige que as organizações implementem medidas técnicas e administrativas para proteger esses dados, como criptografia e controle de acesso, prevenindo acessos não autorizados ou vazamentos”.
A utilização de dados biométricos, como a íris, exige extremo cuidado. Uma vez comprometidos, esses dados não podem ser alterados, diferentemente de senhas tradicionais, o que expõe os indivíduos a possíveis fraudes e acessos não autorizados. Além disso, a falta de regulamentação clara para práticas desse tipo no Brasil levanta dúvidas sobre a proteção dos direitos dos cidadãos e o uso responsável de suas informações pessoais.
Em 2019, uma falha de segurança no sistema biométrico BioStar 2, da empresa Suprema, expôs mais de 27,8 milhões de registros, totalizando 23 GB de dados sensíveis, incluindo impressões digitais, informações de reconhecimento facial, nomes de usuário e senhas não criptografadas. Utilizado por mais de 5.700 organizações em 83 países, como governos, bancos e a polícia do Reino Unido, o sistema permite o controle centralizado de acesso a instalações. A vulnerabilidade foi descoberta pelos pesquisadores Noam Rotem e Ran Locar, da VPNmentor, enquanto investigavam falhas em sistemas empresariais.
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YNARA SANDRA FERREIRA MATTOS
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