O Brasil oferece ambientes bastante propícios para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como dengue, Zika e chikungunya. Antes endêmico de regiões mais quentes e litorâneas, hoje ele está amplamente distribuído por todo o território nacional, tendo sido registrado em mais de 90% dos municípios, segundo o Ministério da Saúde. Essa disseminação é resultado de uma combinação de fatores climáticos, geográficos e sociais, como temperatura e umidade do ar elevadas durante boa parte do ano, urbanização desordenada e falta de saneamento básico adequado.
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O resultado é que, até o início de novembro deste ano, a dengue já superava os 6,6 milhões de casos prováveis no Brasil, recorde histórico da doença, e a chikungunya acumulava mais de 265 mil registros – cerca de 100 mil a mais quando comparado a 2023. A forma mais efetiva de reduzir tais índices, e prevenir a disseminação das chamadas arboviroses, continua sendo combater a cadeia de reprodução do mosquito, conhecido por se desenvolver em ambientes de água parada. De acordo com o Ministério da Saúde, 75% dos focos de criadouros do inseto estão localizados dentro dos domicílios, e dez minutos semanais de dedicação seriam suficientes para eliminá-los e interromper o ciclo de reprodução do vetor.
Objetos mal acondicionados ou deixados ao ar livre podem virar foco de reprodução do mosquito por conta do acúmulo de água parada. Foto: Instituto Butantan/Governo de SP
Confira 11 dicas para colocar em prática já e deixar sua residência livre do A. aegypti:
1. Mantenha a caixa d’água totalmente vedada e avalie a possibilidade de colocar uma tela na saída do ladrão. O mesmo cuidado é válido para cisternas e tonéis que servem como reservatório de água;
2. Feche bem os sacos de lixo e procure colocá-los em locais mais altos, fora do alcance de animais. Já as lixeiras devem permanecer sempre muito bem tampadas;
3. Avalie quais pratinhos de plantas podem ser eliminados e preencha com areia até a borda aqueles que forem mantidos;
4. Dispense corretamente no lixo qualquer tipo de objeto que não seja utilizado e tenha potencial para acumular água. Garrafas, potes e vasos devem estar vazios e, se possível, tampados;
5. Retire folhas, galhos e sujeiras que impeçam o livre escoamento da água da chuva pelas calhas;
6. Instale telas nos ralos e mantenha-os sempre limpos. Caso estejam fora de uso, deixe-os muito bem tampados – o mesmo é válido para sanitários que são utilizados eventualmente;
7. Limpe e seque as bandejas de ar-condicionado e geladeira – modelos mais antigos do eletrodoméstico podem ter o reservatório na parte de trás;
8. Utilizando a parte mais áspera da bucha, esfregue muito bem o fundo e as laterais de potes de água oferecidos a animais, assim como qualquer outro apetrecho usado para guardar água;
9. Na área de serviço, mantenha baldes e outros utensílios virados com a boca para baixo;
10. Estique ao máximo as lonas usadas para cobrir objetos, evitando a formação de poças d’água em caso de chuva;
11. Mantenha em dia a manutenção de piscinas. Os cuidados semanais incluem sanitização da água com cloro e a limpeza das bordas.
Uso de repelente é essencial para evitar a picada do Aedes, pois o mosquito costuma ser mais ativo durante o dia. Foto: Instituto Butantan/Governo de SP
Dicas extras para reforçar o cuidado com a sua família:
– Instale barreiras físicas, como telas nas janelas e portas, além de mosquiteiros em cima de camas e berços.
– Caso seja possível, use roupas claras e que cubram boa parte do corpo.
– Aplique repelente na parte da pele que ficar exposta e, também, por cima da própria roupa. Grávidas estão liberadas para usar o produto, desde que esteja registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já os menores de 2 anos não podem usar repelentes à base de DEET; para crianças entre 2 e 12 anos, a concentração da substância não pode ultrapassar os 10% e a aplicação deve se restringir a três vezes por dia.
O ciclo reprodutivo do mosquito e a transmissão da dengue
A cada postura, as fêmeas do Aedes aegypti depositam centenas de ovos na parede de criadouros em potencial, geralmente localizados próximos a uma superfície de água. Escuros e menores do que um grão de areia, os ovos podem durar mais de um ano caso permaneçam em ambiente seco, mas eclodem rapidamente assim que entram em contato com a água. Em apenas sete dias, as larvas completam seu ciclo de transformação.
Na fase adulta, o mosquito apresenta coloração marrom e listras brancas bastante características nas regiões das pernas e do tórax. Capaz de viver por mais de 45 dias, o Aedes aegypti possui hábitos diurnos, geralmente se alimentando e se reproduzindo à luz do dia. As fêmeas são as únicas capazes de picar humanos, uma vez que precisam de uma fonte de proteína (sangue) para a maturação dos ovos – se ela estiver infectada, é nesse momento que ocorre a transmissão do vírus da dengue.
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Os primeiros sintomas da doença aparecem, em média, cinco dias após a picada do mosquito transmissor e o quadro costuma incluir febre repentina, dor de cabeça, muscular e atrás dos olhos, e prostração. Vômitos persistentes, dor abdominal intensa e sangramento de mucosa são sinais de alerta. Diante de qualquer um desses sinais, a pessoa deve procurar o serviço de saúde imediatamente.
Ovos dos mosquito A. aegypti podem durar mais de um ano em ambiente seco. Foto: José Felipe Batista/Governo de SP
Vacina contra dengue
Em 2024, o Ministério da Saúde deu início à estratégia inédita de vacinação contra o vírus da dengue. Ao lado das medidas de combate ao vetor, a imunização é uma das formas mais eficientes de prevenir a doença. Em um primeiro momento, o produto foi indicado às crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos de idade que residem em municípios com mais de 100 mil habitantes e registraram alta transmissão do vírus nos últimos dez anos. A vacina é recomendada independentemente de infecção prévia e o esquema é composto por duas doses com intervalo de três meses.
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Desde 2009, o Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de um imunizante contra a dengue, que se encontra em fase final de regulação junto à Anvisa. Capaz de proteger contra os quatro tipos circulantes do vírus e aplicada em dose única, a expectativa é que a vacina esteja disponível em breve para toda a população brasileira.