“Poemas de amor e outras taquicardias”, dá continuidade a carreira literária da médica e escritora paulistana Mila Nascimento (@srta_mila_nascimento) e aborda, a partir da intertextualidade e também da experiência, a face menos falada do amor, o amor-próprio. Publicada pela editora Minimalismos (48 págs.), a coletânea de poemas conta com uma frase da bell hooks como epígrafe.
A poeta expõe, mais uma vez com o uso da primeira pessoa, uma subjetividade que, construída em busca do amor romântico, não só se descobre capaz de amar a si mesma, como aprende a importância do amor-próprio para amar e ser amada. Assim, o amor passa a evocar, também para si, a necessidade de cuidado, construção e atenção.
Esse processo, exposto em versos que evocam a oralidade e a ênfase da fala, acontece em diálogo com grandes nomes da literatura brasileira. Sendo eles, em maioria, poetas que influenciaram a forma que o amor é percebido em nossa cultura, como Vinícius de Moraes, Cecília Meireles e Hilda Hilst, e aqui são, de certa forma, reconstruídos, junto do próprio eu-lírico.
Segundo a autora, sua publicação mais recente se soma a “Poemas Paridos de Cócoras – porque assim dói menos” (Minimalismos, 2022) e “Poemas para antes do banho, durante o café e depois do abandono” (Patuá, 2023), encerrando uma trilogia que aborda o ser mulher e as violências relacionadas com o gênero feminino e também a (re)descoberta de si a partir de uma ótica feminista. Os três livros se conectam porque foram escritos durante um ciclo que durou 7 anos e simbolizam fases distintas de uma mesma mulher. “Traduzi as mulheres que nasceram em mim entre 2017 e 2024”, reflete a autora.
O empoderamento feminino, como processo não linear, mas essencial, guia a escrita e o propósito de vida de Mila, e nesse novo livro ganha novas nuances. Assim, como acontece no corpo de acordo com os anos, camadas são adicionadas. Joelho, cangote, nariz, virilha, todas as partes são essenciais nessa retomada do eu tão importante para a autora, como o poema “Inteira” reafirma.
Mas diferente do livro anterior, o humor aparece em “Poemas de amor e outras taquicardias”. E aparece, principalmente, como um mecanismo de afirmação de desejo. No poema “Oração do auto amor”, que fecha o livro, o eu-lírico evoca para seu apelo a “Nossa Senhora da periquita molhada”, por exemplo. Mas o desejo que a poeta coloca em seus versos vai além do desejo sexual, é um desejo existencial que às vezes se confunde com o desejo de amar e ser amada em um sentido amplo, mas é principalmente sobre ser e deixar de ser.
Mila e Camila, a médica, a mediadora de saraus e a escrevedora
Camila do Nascimento Leite, nome de batismo da escritora Mila Nascimento, nasceu em março de 1979, em São Paulo, mas mora em Campinas (SP) e atua como médica endocrinologista, sexóloga e emergencista, além de dedicar parte do seu tempo para cuidar voluntariamente de pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Escreve desde a infância, mas foi em 2022, que sua escrita foi reconhecida, após ter sido premiada na Categoria Poesia Nacional no 57º FEMUP, o Festival de Música, Conto e Poesia de Paranavaí (PR). Além de sua trilogia, já publicou textos em blogs e revistas literárias como Jirau de Histórias, Revista Artes do Multiverso, Barda Literária, Poesia na Alma, Alpendre Literário, A Casa Inventada, Contos de Samsara e Revista TAUP, da editora Toma aí um poema.
Atualmente, também é mediadora do CAPITOLINAS – Clube de Leitura Feminista e Letramento Anti-Machista, clube/sarau de leitura feminista, o que evidencia ainda mais a importância que ela dá ao letramento anti-machismo a partir da literatura. “O Capitolinas é uma estratégia bem-sucedida de implementar o movimento feminista e desmontar o patriarcado por meio da literatura e do fortalecimento mútuo entre mulheres”, destaca Mila que busca levar o evento que organiza para cafés ou empórios preferencialmente geridos por mulheres.
Entretanto, seu trabalho como mediadora de leitura não fica restrito às mulheres. Ela também é mediadora do Clube de Leitura Anti-Machista – NÃO BENTOS, que tem como proposta debater as masculinidades a partir de obras literárias.
Confira um poema do livro:
discordo de Vinícius
a VIDA não é a arte do encontro
a VIDA é a arte do REMENDO
da nobre tarefa de colar os cacos e fazer vaso novo
a VIDA é PEROBA ROSA
nobre madeira de DEMOLIÇÃO
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ANA LAURA FERRARI DE AZEVEDO
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