*Por Alon Lubieniecki
Pela primeira vez na história da humanidade estamos ‘cegos’ sobre quais são os próximos passos para orientarmos nossos jovens a terem um futuro próspero. Isso porque, a antiga fórmula “estude, faça uma boa faculdade, conquiste um bom emprego e cresça dentro da empresa”, caiu por terra há alguns anos.
Ao observar e conversar com meus filhos, e também com alguns amigos sobre seus filhos, me peguei refletindo não apenas sobre os desafios já inerentes à nós pais, na criação e desenvolvimento das crianças, mas também, e principalmente, sobre os passos que os jovens devem seguir.
O que mais me preocupa, nesse sentido, não é apenas a velocidade das mudanças, algo que é fundamental para a evolução da sociedade, mas sim o fato de que pela primeira vez não há garantias do que precisaremos de aprendizes. Isso porque a Inteligência Artificial não está apenas automatizando trabalhos repetitivos, ela está se tornando melhor que humanos em tarefas que considerávamos exclusivamente nossas.
É aquilo que costumo chamar de Irrelevância Programada. Isso acontece porque antes os mais jovens aprendiam com os mais experientes, por meio de uma relação física e próxima. Como bebês que aprendem imitando os adultos, o conhecimento técnico e profissional era transmitido por meio de gerações de mentores e aprendizes. O que (feliz ou infelizmente) não existe mais.
No meio dessa aparente distopia, surgem vislumbres de um futuro radicalmente diferente – e potencialmente muito melhor. Como me contou outro amigo, que trabalhou por anos com energia solar: bastaria uma área de 200 km² no Saara para gerar energia suficiente para todo o planeta. E você sabe que energia ilimitada significa água e comida ilimitadas. Ou seja, o sonho de uma sociedade realmente sustentável.
Em outras palavras, é uma forma de alcançarmos a tal Economia da Abundância, onde o verdadeiro desafio do futuro pode não ser a escassez, mas a abundância. Um bom exemplo são as criptomoedas e tecnologias de descentralização, que estão rompendo elos tradicionais das cadeias produtivas. Nesse sentido, a desintermediação não está apenas eliminando intermediários, ela está questionando a própria necessidade de estruturas centralizadoras, incluindo alguns aspectos dos estados modernos.
Diante desse cenário e onde a produção material pode ser amplamente automatizada e a energia pode ser abundante, a provocação que faço é: o que faremos com nosso tempo livre? O que dará sentido às nossas vidas quando o trabalho tradicional não for mais o centro de nossa existência?
Talvez estejamos no limiar de uma era onde a busca pela realização pessoal e coletiva substituirá a antiga ética do trabalho. As artes, o autoconhecimento e a contemplação da natureza podem ganhar um novo significado quando não forem apenas “hobbies” para as horas vagas, mas sim o centro de uma nova forma de vida.
É por isso que fiquei reflexivo sobre o maior desafio dos próximos anos, que não será tecnológico, será psicológico e social. Como, diante disso, devemos preparar as novas gerações para um mundo onde as antigas métricas de sucesso não farão mais sentido? Como criar significado em um mundo onde o trabalho tradicional pode se tornar obsoleto?
A resposta pode estar em um aparente paradoxo: quanto mais avançada a tecnologia, mais importantes se tornam as qualidades mais profundamente humanas. Criatividade, empatia, pensamento crítico e capacidade de encontrar sentido não são apenas habilidades úteis – são o que nos diferencia das máquinas.
A ironia final pode ser esta: no momento em que a tecnologia parece tornar os humanos obsoletos, ela na verdade nos liberta para sermos ainda mais humanos. O desafio, portanto, não é competir com as máquinas, mas redescobrir o que significa ser humano em um mundo onde o trabalho tradicional não é mais o centro de nossa existência.
Para os jovens, que hoje entram na universidade, o futuro pode parecer assustador. Mas talvez estejamos no limiar não do fim do trabalho humano, mas do início de algo muito mais interessante: uma era onde poderemos, finalmente, nos concentrar não apenas em sobreviver, mas em verdadeiramente viver.
*Alon Lubieniecki é CEO da Luby, consultoria de software que impulsiona o futuro dos negócios com soluções tecnológicas inovadoras, combinando o melhor do talento humano e da Inteligência Artificial.
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
Renniê Paro
rennieparo@gmail.com