De acordo com o Ministério da Saúde a doença causou 2.711 infecções e 236 mortes, em 2023. No mundo são registrados 1 milhão de casos e cerca de 60 mil mortes por ano. Com o objetivo apoiar entidades e órgãos da saúde no mapeamento da leptospirose na cidade de São Paulo, o professor e pesquisador Bruno Miotto, do Programa de pós-graduação em Saúde Única da Universidade Santo Amaro (Unisa), tem liderado linhas de pesquisas relacionadas a bactéria leptospira. Em recente estudo, o estudioso identificou mais de 700 casos prováveis da enfermidade, sendo que, no mesmo período, na capital paulista, foram notificados somente 50 casos oficiais, segundo os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
Com o apoio da Universidade de São Paulo (USP) e a Prefeitura de São Paulo, mais especificamente do Laboratório de Diagnóstico de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores – Divisão de Vigilância de Zoonoses (LABZOO-DVZ), os pesquisadores tiveram acesso a cerca de 6,9 mil amostras de pacientes da rede pública de saúde com suspeita clínica de dengue, atendidos durante o período de maio a dezembro de 2019, e cujo testes confirmatórios para a virose apresentaram resultados negativos.
A partir disso, o grupo de pesquisadores passou a investigar casos prováveis de leptospirose entre os pacientes dengue-negativos, assim como identificar as áreas de maior risco para o subdiagnóstico da doença. A pesquisa tornou-se tema da dissertação de mestrado da médica veterinária e professora da UNISA, Stephanie Bergmann Esteves, sob orientação do professor Marcos Bryan Heinemann, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
Os professores identificaram que 11,3% dos pacientes dengue-negativos apresentavam anticorpos do tipo IgM, o que é altamente sugestivo da ocorrência da infecção aguda por leptospiras. Ao todo, foram identificados 786 casos prováveis de leptospirose entre os pacientes avaliados. Os dados gerados pelo estudo foram utilizados para estruturar um mapa de risco para o subdiagnóstico da doença na capital paulista.
De acordo com a análise, as regiões Norte e Sul concentram o maior número dos casos e maior risco para subnotificação. O estudo permitiu também o cálculo da incidência média corrigida de 7,6 pessoas infectadas a cada 100 mil habitantes, número 13 vezes mais alto do que o número de casos notificados oficialmente.
“Além das regiões de maior risco, também foi possível observar indícios de que o perfil dos pacientes com provável subnotificação pode ser diferente do perfil classicamente estabelecido na literatura científica. Identificamos que a maioria dos casos eram mulheres, e que residiam em locais com IDH mais alto, o que justifica a necessidade de continuar com os estudos para entender melhor o real perfil dos casos potencialmente subnotificados” cita Esteves.
“Futuramente, essa informação poderá contribuir no combate da doença, bem como no direcionamento de ações das iniciativas pública e privada”, afirma a pesquisadora. “Esses dados são importantes para auxiliar órgãos de saúde na adoção de medidas preventivas voltadas especificamente para as áreas identificadas, buscando assim minimizar não somente a ocorrência da doença, mas também reduzir o seu subdiagnóstico ”, pontua Miotto.
Entre os sintomas causados pela doença infecciosa aguda, estão febre alta, dor de cabeça e musculares, falta de apetite, náuseas e vómitos, sintomas esses comuns a outras doenças como gripe, dengue, febre amarela e malária. “Esse fato pode contribuir para que os casos de leptospirose deixem de ser diagnosticados e notificados. A falta de registro, por sua vez, pode dificultar o combate à doença”, comenta o professor Bruno Miotto.
Ao longo dos últimos anos, o pesquisador tem desenvolvido diversas pesquisas relacionadas à leptospirose pela Universidade, incluindo o estudo da leptospirose em cães, gatos e animais silvestres, dentro de uma perspectiva de promoção da Saúde Única, conceito que visa compreender a interconectividade entre saúde humana, saúde animal e meio ambiente.
Novas pesquisas em doenças subnotificadas
Com os resultados obtidos no mapeamento dos prováveis casos subnotificados em pacientes humanos, os pesquisadores buscam apoiadores para continuar investigando a subnotificação da leptospirose no município de São Paulo, assim como o desenvolvimento de novas pesquisas envolvendo a identificação de outras doenças negligenciadas na capital paulista, como malária, febre maculosa, doença de Chagas e leishmaniose. Todas elas, assim como a leptospirose, apresentam também sintomatologia semelhante a dengue, o que pode levar a uma baixa suspeição desses quadros por parte das equipes de saúde locais, principalmente em regiões onde há alta incidência da arbovirose.
O pesquisador, vinculado ao pós-graduação em Saúde Única da Unisa, pretende iniciar em breve estudo relacionado a síndrome respiratória grave em humanos, buscando investigar se parte dos casos atendidos no Hospital Geral do Grajaú pode ser causado pela infecção causada por leptospiras. A pesquisa, em fase de desenvolvimento, será conduzida pela professora Priscila Luna, docente do curso de Fisioterapia da Unisa e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Única.
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GENINHA APARECIDA MORAES ROCHA
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