O primeiro semestre de 2024 trouxe à tona a necessidade urgente de aplicar os princípios da Saúde Única, conforme os 12 princípios de Manhattan discutidos há cerca de 20 anos, em Nova York. Esses princípios visam medidas de prevenção para doenças emergentes e reemergentes, resultantes da interação entre humanos, animais e meio ambiente. A recente reemergência do vírus Oropouche, no Brasil destaca a importância desta abordagem.
O vírus Oropouche é um arbovírus de grande preocupação para a saúde pública brasileira, responsável por diversos surtos de febre aguda e mais de meio milhão de casos documentados. Os primeiros registros do surto atual no Brasil datam do final de 2022, identificados pelo Laboratório Central (LACEN) de Roraima, seguidos por casos no Amazonas, Rondônia e Acre. Em Roraima, os casos de Oropouche superam os de dengue, conforme diagnósticos via PCR em tempo real, utilizando protocolo da Fiocruz Amazônia/ Ministério da Saúde no Brasil e recomendado pela Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS.
Recentemente, a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia e o Instituto Gonçalo Moniz – Fiocruz Bahia relataram um aumento exponencial de casos em 2024: seis casos confirmados em março, 80 em abril e 610 até o início de junho. Essa tendência é alarmante e demanda atenção imediata das autoridades de saúde.
O vírus Oropouche, identificado na região oeste da Amazônia na década de 1990, ressurge devido a mudanças antropogênicas, causando febre Oropouche, semelhante à dengue, com alto potencial epidêmico. Embora não tenham sido registradas mortes, o vírus pode causar infecções sistêmicas, incluindo no sistema nervoso e sanguíneo, levando a complicações graves. Os sintomas incluem febre alta, dor de cabeça intensa, dor ocular, muscular e nas articulações, erupção cutânea e sangramento leve.
A saúde ambiental, um dos pilares da Saúde Única, está comprometida, refletindo-se na incidência de casos desse vírus. As condições ambientais favorecem a distribuição da população vetora em áreas de tráfego humano. A transmissão do vírus ocorre tanto em ciclos urbanos quanto silvestres, com o mosquito Culicoides paraensis, de hábitos antropofílicos, sendo o principal vetor em áreas urbanas. Outros vetores, como Culex quinquefasciatus, Aedes aegypti e Ochlerotatus serratus, também podem manter seu ciclo urbano. Até o momento, não foi observada transmissão direta de pessoa para pessoa.
Diante dessa ameaça, é crucial que as autoridades de saúde da Bahia e do Brasil reforcem as medidas de prevenção e controle, alinhadas aos princípios da Saúde Única. Este cenário ressalta a necessidade de uma abordagem integrada e coordenada, envolvendo saúde humana, animal e ambiental, para enfrentar os desafios das doenças emergentes e reemergentes. A experiência com o vírus Oropouche na Bahia é um lembrete contundente da interconexão entre nossas ações e a saúde do planeta, e da importância de uma resposta coletiva para proteger nosso futuro.
*Willian Barbosa Sales é Biólogo, Doutor em Saúde e Meio Ambiente, Coordenador dos cursos de Pós-graduação área da saúde do Centro Universitário Internacional UNINTER.
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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